O otimismo (e o pessimismo) de início de ano

O início do ano traz otimismo e reflexões sobre perspectivas futuras, mas também desperta a ponderação influenciada por experiências passadas e aprendizados, como os insights de Arthur Schopenhauer sobre a Vontade e a Representação, que continuam a moldar meu pensamento estratégico até hoje.

O início de ano é um tempo de otimismo. De promessas, de votos de prosperidade e de esperança de vitórias. Mas é só lermos algumas notícias e postagens, e logo questionamos se as coisas ocorrerão da forma como queremos. Então ponderamos, e refletimos. Em um desses momentos, veio a minha lembrança um episódio interessante. E também um livro que li há muito tempo, e que me influencia até hoje.

Recordei-me de um workshop para projeção de cenários que realizei há muitos anos. Gosto de praticar o “pensamento divergente”, na busca por mais alternativas. Naquele dia, com um sorriso no rosto, um cliente me disse que eu era um sujeito pessimista. Trabalho emitindo “contrapontos”, em um país de otimistas. Então, não fiquei surpreso, muito menos chateado. Disse que me considerava um cético que buscava estar bem informado. E expliquei também ser um praticante de moderação capacidades e tendências.

Anos mais tarde, em 2005, pesquisei sobre a obra de Arthur Schopenhauer. Como parte da construção de minha tese, li o livro “O Mundo como Vontade e Representação”, que lançou luz sobre noções importantes que trago comigo até hoje quando participo de análises e formulações estratégicas. Em apertada síntese, o autor afirma que a Vontade é uma força cega e incontrolável, um impulso irracional, que acaba por moldar desejos e atitudes. Já a Representação é um fenômeno relativo à cada indivíduo, e que, portanto, depende dele para existir. Desta forma, o que se mostra são as percepções de quem enxerga, não a “realidade”, e algo tão mutável quanto a própria Vontade. Em outras palavras, é o sujeito quem determina o objeto, conforme o momento de uma força interna inconsciente. São inseparáveis. Assim sendo, diagnósticos e, por seguinte, os caminhos advindos desses, serão reflexos da Vontade, manifestados em percepções.

Perguntei a um professor no doutorado como não “contaminar” os diagnósticos e decisões com a Vontade. Ele reforçou a relação entre sujeito e objeto, no entanto, que devemos perseguir uma “postura fenomenológica”. Distanciamento do objeto, suspenção de juízo de valor, e rigor com relação aos dados e fatos. Creio ser o tipo de exercício que muitos de nós procuramos realizar no dia-a-dia. Suficiente? Então voltemos a Schopenhauer e a busca pela libertação da Vontade. Restariam duas alternativas: 1) prosseguir no caminho, apenas admitindo as “restrições” das representações; ou, 2; voltar-se para dentro, buscando o conhecimento, caminho para a supressão dos impulsos. Consequência: sofrimento, afirma ele. O pessimismo.

Parece-me que o frescor do otimismo é fundamental para o storytelling. Para materializar como queremos que seja. Mas o pessimismo também pode ser útil para trazer a inconformidade com o status quo de representações talvez incapazes de explicar razoavelmente e, assim, apoiar na construção das mudanças necessárias.

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