Até o final da década de 1990, os principais assuntos em estratégia empresarial eram o crescimento e o posicionamento competitivo. O planejamento estratégico era dominado por discussões sobre vantagem competitiva, mercados, produtos, e assim por diante. Mesmo havendo setores em que formatos de negócios muito distintos coexistiam, como exemplo o varejo de cosméticos (lojas físicas X porta a porta), na maioria das vezes a dinâmica dos players era a mesma havia décadas. Naquele tempo, a Internet potencializou empresas a atuarem de forma distinta em indústrias tradicionais, como foi o caso da Dell. Porém, via de regra, os setores de transporte, hospitalidade, finanças, como tantos outros, permaneciam cada qual com o seu “jeitão” de fazer as coisas.

A virada do século trouxe consigo um “boom” no interesse, na produção de artigos e, então, na utilização da Internet não mais apenas como ferramenta de ganho de eficiência ou diferenciação, mas como elemento viabilizador na criação de novos modelos de negócios. E esse passou a ser um assunto de grande e crescente interesse prático. Um MODELO DE NEGÓCIO é uma formulação estratégica que descreve “COMO” determinada empresa deve competir no mercado. É uma escolha que necessariamente traz consigo a identificação de uma “lacuna” (ou “problema”) que os compradores não conseguem resolver (ao menos perfeitamente) e que, para tal, cria-se valor (“solução”) por meio de uma dinâmica de atividades. Tal resposta tem passado pela construção de conexões entre parceiros, por vezes em diferentes setores. Portanto, o sucesso de um modelo está em sua capacidade sustentável de capturar e distribuir valor de forma nova ou ao menos superior aos formatos existentes.

Acredito que os temas clássicos da estratégia empresarial permaneçam pauta obrigatória nas reflexões da alta gestão. Afinal de contas, como pensar no futuro de um negócio sem discutir, por exemplo, as suas principais linhas de produtos/serviços e os mercados nos quais pretende atuar? Entretanto, a digitalização promoveu uma revolução de possibilidades na concepção e viabilização de novas maneiras de solucionar problemas de mercado por meio de redes integradas e coordenadas de valor. E assim, muito embora o tradicional debate entre como uma empresa deve mover-se “de um ponto a outro” permaneça muito válido, antes e acima dessa discussão deve ocorrer a definição de seu modelo de negócio.