Guerra, Catástrofe e o Coup-D’Oeil

No contexto atual de crise no Rio Grande do Sul em maio de 2024, comparado a uma guerra, a situação desafia tanto cidadãos quanto líderes. As decisões dos detentores do poder, como observado por Clausewitz, influenciam profundamente o desenrolar do conflito, evidenciando a importância da estratégia e da liderança em momentos de crise.

É triste, mas razoável, a comparação que se tem realizado entre a situação vivida no RS neste maio de 2024 e uma guerra. As forças inimigas e a destruição colocam à prova cidadãos e “combatentes”. Diz Clausewitz (“On War”, Everyman´s Library, 1993) que a guerra é um braço da política. Portanto, resultado de decisões dos detentores do poder. Lembrando que ela também ocorre em movimento de defesa, pode-se concluir que o tempo trará clareza não somente sobre o que trouxe a guerra, assim como sobre a performance dos políticos e “comandantes” (civis ou militares) antes e durante o “conflito”.

Neste contexto, merece destaque a experiência do Barão de Jomini (1779 – 1869), autor de “The Art of War” (Dover Publications, 2007), personagem incrível e que merece ser melhor estudado por estrategistas. Suas ideias podem também ser aplicadas à negócios, mostrando-se especialmente relevantes ao drama gaúcho.

“Guerra em seu conjunto não é uma ciência, mas uma arte. Estratégia, particularmente, pode sim ser regulada por leis fixas semelhantes àquelas das ciências exatas, mas não é a verdade da guerra vista como um todo” (p. 293, trad.). Então, no mesmo trecho, o autor adverte que fatos dramáticos, qualidades, aspirações pessoais e paixões podem tomar controle das massas, pondo à prova a energia e o talento dos comandantes. E complementa: “Um general completamente instruído na teoria da guerra, mas que não possua COUP-D´OEIL, frieza, e habilidade, pode fazer um excelente plano estratégico e ser completamente incapaz de aplicar as regras das táticas na presença do inimigo: seu projeto não terá sucesso na implementação, e sua derrota será provável. Se ele for um homem de caráter, será capaz de reduzir os perversos resultados de seu fracasso, mas se perder seu juízo, ele perderá o seu exército” (p. 294, trad.). Em linha com Clausewitz (1993, p. 698, trad.), que afirmou: “No momento derradeiro, é realmente o COUP-D´OEIL do comandante, sua habilidade de ver as coisas com simplicidade, de identificar todo o cenário da guerra, no que consiste a essência do bom general. Apenas se a mente funciona de maneira compreensiva, ela pode atingir a liberdade que precisa para dominar os eventos e não ser dominada por eles”.

Segundo Jomini (p. 306, trad.), COUP-D´OEIL é “(…) a característica mais valiosa em um bom general, sem a qual não conseguirá pôr em prática as melhores teorias do mundo”. Diz respeito à capacidade de ter uma visão clara, instantânea e sintética sobre o campo de batalha e, em meio ao caos, ser capaz de tomar decisões rápidas com relação ao posicionamento, reposicionamento e a mobilização de tropas e equipamentos. O COUP-D´OEIL faz lembrar que o conhecimento é algo necessário, mas insuficiente diante de situações extremas, quando os comandantes são testados também em seus Valores, Competências, Habilidades, e Percepções, ou seja, em sua SABEDORIA para decidir e transformar.

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