Com relação à formulação de estratégias, os papeis de conselheiros e diretores não constituem assunto absolutamente claro em todas as organizações. Afinal de contas, a quem de fato compete a definição das estratégias empresariais?
Primeiramente, cabe observar que diferentes organizações podem possuir regras distintas, por vezes em seus documentos societários, ou mesmo nos regimentos internos. No entanto, as Boas Práticas de Governança Corporativa há muito tempo deixam claro que o conselho de administração é o órgão responsável pela definição da estratégia corporativa. Em seu dever de criar valor sustentável ao negócio, fortalecendo as competências organizacionais por meio do estímulo ao pensamento estratégico e a capacidade de inovação das lideranças, mais precisamente na página 33 do novo Código do IBGC (6ª Edição), resta clara a incumbência do colegiado de dar o DIRECIONAMENTO ESTRATÉGICO à DIRETORIA. E por aqui se limita o detalhamento sobre este importante tema.
Para explicar o que são os “Direcionamentos Estratégicos”, tenho utilizado o excelente modelo de Eugene Fama e Michael Jansen (1983), resgatado por José Paschoal Rossetti e Adriana Andrade (2012, p. 239), o qual apresenta claramente (i) os “Grandes Propósitos Empresariais”; (ii) a “Contribuição na definição de guide lines para a Gestão”; e, (iii) a “Emissão de Expectativas de Resultados alinhados às demandas dos Grupos Acionários”, como o conjunto de noções necessárias para que a DIRETORIA EXECUTIVA elabore PLANO ESTRATÉGICO. Sim, importante esse destaque, pois, na experiência observada e compartilhada entre colegas da área, não é incomum o exercício de criação das estratégias e planos pelo próprio Conselho, quando a boa prática recomenda que o mesmo forneça o direcionamento e, depois, valide ou solicite a Gestão que realize as devidas retificações. Portanto, é desta forma que o conselho deve desempenhar adequadamente a sua prerrogativa de “definidor” da estratégia.
Em minha prática profissional, diferentemente dos referidos autores, chamo de Diretrizes Estratégicas o conjunto de referências fornecidos pelo conselho aos gestores. E reforço muito a necessidade de validação disso pelos sócios. Já o que chamam de “Diretrizes Estratégicas” (vide a figura), chamo simplesmente de Plano, ou a manifestação escrita das decisões tomadas. Já com relação aos elementos necessários a serem coletados junto ao conselho para a elaboração do “plano”, destaco brevemente: i) Noções sobre o escopo de atuação, o significado, e onde querem chegar com a empresa; ii) “Apetite ao Risco”, tema essencial para “acertar a mão” na proposição de estratégias; e, finalmente, iii) Se há um ou mais objetivos específicos a serem perseguidos nos próximos anos. Veja, não há questões sobre estratégia, pois estratégias são soluções para problemas complexos, e isso cabe aos executivos encontrarem, proporem, e ao conselho avaliar, eventualmente corrigir e, finalmente validar.
