Como estrategistas, precisamos constantemente desafiar os nossos conceitos. Neste sentido, recomendo o livro “PROPÓSITO PROFUNDO: o coração e a alma das empresas de alto desempenho”, de Ranjay Gulati (2024). Foi ruim, mas foi bom. É assim que classifiquei ideias sobre as quais possuo compreensões diferentes em alguns pontos, mas cuja experiência certamente acrescentou na construção de meus saberes. Sim, aprendi bastante. Não estou exatamente entre “A maioria dos líderes (que) pensa no propósito a partir de uma perspectiva funcional ou instrumental, considerando-o uma ferramenta que podem utilizar” (p.1), mas certamente não acredito no Propósito como um “Graal”, ou deliberação que por si soluciona todas as demais “abaixo dela”.
Diz o autor: “Sou fortemente a favor da regulação do governo para conter os excessos do capitalismo”. E “Os CEOs não operam no vácuo, e muitos simplesmente não tomarão ações socialmente benéficas por conta própria”. Ainda na mesma página 9: “Além disso, temos de exercer a regulação como uma opção se as empresas não tomarem medidas por conta própria”. Discordo. Mas li tudo e entendi os argumentos do professor do MBA de Harvard. São consistentes, nos fazem pensar. O livro é prático em técnicas sobre como alcançar, desenvolver, e até retomar o Propósito. Mas sigo discordando principalmente dos argumentos iniciais.
Primeiramente, pareceu-me haver peso excessivo no tema risco ambiental dentre os “propósitos realmente importantes”. As outras duas letras do ESG ficaram em segundo plano. Também tive a impressão de que “fazer a diferença no mundo” é condição para um propósito profundo e valioso. No entanto, o que resta quando, mesmo desejando, você “apenas” consegue fazer bons produtos e entrega-los com qualidade e princípios? Uma organização eficiente e ética é insuficiente para a humanidade? É claro que o ideal é obter lucro enquanto se resolve algum problema global, todavia, nem sempre isso é possível. O empresário geralmente sabe e acredita que um propósito profundo atrairá talentos, mobilizará sua equipe em torno de um motivo, e produzirá melhores resultados para todos os stakeholders. No entanto, nem sempre o encontra. E então?
Sugiro, então, (também) a leitura de outro livro: “DESCOBRINDO A ESSÊNCIA DO SERVIÇO: os nove geradores de sucesso sustentável nos negócios”, de Leonard L. Berry (1999), que toma outro caminho, mas chega a lugar semelhante. Segundo o autor, empresas cumprem seus papeis e se mantem no mercado quando nutrem nove impulsionadores, sustentados pelo mais importante deles, a LIDERANÇA BASEADA EM VALORES, a qual impulsiona todos os outros. Leia o livro e avalie se, mesmo sem um “Propósito Profundo”, uma empresa não seria capaz de sobreviver e de realizar maravilhosas contribuições à sociedade, desde que impulsionada por lideranças capazes de agir como “apóstolos” de VALORES significantes, em síntese: Excelência, Alegria, Inovação, Respeito, Trabalho em Equipe, Lucro Social, e Integridade.
